quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Alguns axiomas aconselhados por São Clemente Maria


1. Ao entrar ou sair de casa, ao levar algum objeto de um quarto ao outro, faça-se sempre a boa intenção, tudo depende dela; por uma boa intenção até as coisas mais insignificantes tornam-se grandes diante de Deus.
2. Depois da queda original, o homem é imensamente mais feliz do que antes dela; por Jesus Cristo ele conseguiu direito sobre o próprio Deus, que lhe pertence. Por isso canta a Igreja: “Ó culpa feliz de Adão!” Os anjos do céu admiram os homens, que revestiram da sua carne o próprio Deus, e ter-lhes-iam inveja, se isso não repugnasse a sua natureza. Se Satanás tivesse podido supor que Deus salvaria o homem por um milagre tão espantoso, não teria tentado a Adão.
3. Procuremos em todas as coisas agradar só a Deus; é bom tudo quanto fazemos por Deus.
4. Para baixo rola a pedra facilmente, para cima só com trabalho se leva.
5. Quem observa as coisas pequenas na vida espiritual, em breve se torna perfeito; muitos gostariam de executar coisas maravilhosas e sensacionais, e desprezam as coisas insignificantes quem despreza as coisas pequenas não é digno das grandes.
6. Se os Santos pudessem sentir arrependimento no céu, tê-lo-iam por não haverem aproveitado mais da fonte inesgotável dos méritos de Jesus Cristo. Santa Teresa apareceu um dia a uma das suas religiosas e afirmou-lhe que com gosto suportaria todas as penas dos mártires até o dia do juízo final, se pudesse aumentar no céu a sua glória o quanto corresponde ao merecimento de uma Ave Maria.
7. Quem julga ter caído, humilhe-se diante de Deus, peça perdão e continue tranqüilo; os nossos defeitos devem conservar-nos humildes, não pusilânimes.
8. Com sua morte dolorosa Jesus nos quis remir e prestar satisfação tão copiosa, a fim de nos mostrar o excesso do seu amor, pois que nos ama com caridade eterna. Deus não pôde fazer mais do que fez para salvar o homem, e todos os condenados deverão confessar que se perderam por própria culpa.
9. Na oração devemos ser como os judeus ao construírem os muros de Jerusalém: ter a espada em uma das mãos e a trolha na outra.
10. Para se conseguir a santidade, o melhor meio é lançar-se, como uma pedra, no oceano da vontade divina, e como uma bola deixar-se jogar por Deus segundo a sua vontade.
11. Os maus pensamentos devemos compará-los a uma folha que cai, ou a uma mulher que grita: não nos incomodar nem deter-nos neles, caminhar sem lhes ligar importância: eis o nosso dever.
12. A graça divina não pode ser forçada, tudo deve ser feito com mansidão; a Mãe divina sofreu mais do que todos os mártires e, entretanto permaneceu sempre tranqüila e serena.
13. No momento da morte haveremos de ver o que fizemos, falamos, pensamos, e o que poderíamos ter feito, falado e pensado, se tivéssemos correspondido à graça; veremos quais os efeitos causados aos outros por nossas palavras e obras; mesmo nas nossas próprias ações boas seremos julgados pela intenção com que as fizemos. “Examinarei Sião com tochas e Jerusalém com lanternas”.
14. É sempre bom fazer alguma pequena mortificação, porém oportunamente e sem coação; gosto de ver alguma coisa, não me deterei nela, sinto prazer em alguma comida, tomarei uma garrafa menos e pronto.
15. A tristeza é nociva ao corpo e à alma; não presta para nada.
16. Ninguém se esforce demais para ter sempre a intenção mais perfeita; faça-a de manhã do melhor modo possível; e ponha-se a trabalhar sem preocupações, como uma criança que anda sossegada o seu caminho até encontrar algum empecilho — só então é que grita por sua mãe. Deus mesmo nos dará os meios de avançarmos na perfeição se o quiser.
17. Devemos tratar com Deus como uma criança com sua mãe.
18. No púlpito é preciso derrubar, com força, as nozes e no confessionário, colhê-las com vagar e calma.
19. Não permaneças sem temos por causa dos pecados perdoados; os pensamentos que nos causaram a queda podem voltar facilmente; o hábito deu-lhes grande força sobre nós; se lhes dermos inteiro consentimento teremos feito no pensamento o mesmo pecado como outrora na ação. Caminhemos com prudência porque levamos um tesouro em vasos frágeis.
20. Devemos imprimir-nos profundamente a Paixão de Nosso Senhor; depois da comunhão e da missa, não pode haver para nós devoção mais útil do que essa meditação, que nos mostra o valor da alma humana, e nos convida a santificar-nos. Façamos isto sempre com calma, como quando pensamos em um amigo ou em um prado sorridente e verde.
21. Quando Satanás tentou a Jesus não sabia ser Ele o Filho de Deus; isso só ficou sabendo quando Jesus expirou na cruz; todavia reconheceu em Jesus um homem que antes nunca vira, sem pecado e imperfeições; e começou a temer que Ele fosse talvez o Messias prometido, mas em seu orgulho não pôde capacitar-se de que o humilde filho do carpinteiro, que trabalhava até cansar-se na sujeição completa a Maria e a José, pudesse ser o Filho de Deus. Satanás é mais prudente do que todos os homens, sabe e compreende tudo menos a humildade e a obediência.
22. A todo o instante celebram-se missas no universo; uma única missa seria suficiente para remir mil mundos e esvaziar o inferno, se pudesse ser oferecida pelos condenados; até a própria morte de Jesus teria sido desnecessária, se antes dela pudesse ser oferecido esse sacrifício augustíssimo dos nossos altares; todos os que se acham na amizade de Deus tornam-se participantes de todas as missas, e com elas, de todos os merecimentos de Jesus Cristo.
23. O mundo existe por causa dos eleitos; os maus são os instrumentos de que Deus se serve para provar e purificar os bons.
24. Deus não precisa de ninguém. — Louvor se dá somente às crianças e aos loucos; podem os homens louvar-nos ou censurar-nos; por isso não ficamos nem melhores nem piores diante de Deus.
25. Nunca nos será lícito expor-nos ao perigo de pecar mortalmente, mesmo que com isso pudéssemos despovoar o inferno e salvar o mundo inteiro.
26. Se virmos as ruas regurgitar de povo, lembremo-nos do rumor das ruas de Jerusalém, no momento em que Jesus foi arrastado ao palácio de Pilatos ou Herodes.
27. É melhor que se fale com Deus do pecador, do que de Deus com o pecador.
28. Deus não necessita da nossa adoração e do nosso serviço, mas nós precisamos de Deus.
29. Todas as criaturas foram feitas por causa do homem, o homem só para Deu